As meninas continuam de olho... vejam a materia da revista epoca sobre saneamento:
Saneamento básico deve chegar a todos apenas em 2122
Se o ritmo lento dos investimentos continuar, os brasileiros terão que
esperar mais de um século para ter acesso a um serviço básico como a rede de
esgoto
THIAGO CID
Dar descarga, ao contrário que muita gente pensa, não quer dizer que os
dejetos serão jogados na rede de esgoto e tratados. Dos domicílios brasileiros,
51% não têm acesso a saneamento básico. Isso corresponde a 46% da população e
quer dizer que o esgoto de mais de 90 milhões de pessoas não tem destino
apropriado. Na maior parte das vezes ele é liberado na natureza sem qualquer
tratamento. As conseqüências desse cenário estão na Pesquisa Trata Brasil -
Saneamento e Saúde, realizada pelo Instituto Trata Brasil e a Fundação Getúlio
Vargas (FGV), divulgada nesta terça-feira (27).
"O Brasil não apresenta nenhum ponto positivo quando se trata de
saneamento", diz o diretor-executivo do Trata Brasil, Raul Pinho. Os
indicadores mostram que o saneamento é o serviço de infra-estrutura que menos
cresceu no Brasil. Enquanto apenas 43% da população têm saneamento, os índices
de acesso à eletricidade são de 93% e de água, 77%. Se continuar no mesmo
passo, o saneamento só estará disponível para toda população brasileira em
2122.
"Por ser algo invisível - já que os esgotos são enterrados - e
cujos problemas atingem principalmente crianças, o tema saneamento não tem peso
político", afirma Pinho. "É um equívoco, pois gasta-se muito mais
para remediar do que prevenir". Segundo o especialista, para cada R$ 1
investido em saneamento, são economizados R$ 4 em despesas médicas.
O problema começa pela falta de investimento público em infra-estrutura:
o Brasil investe apenas um terço do que seria necessário para as obras de
ampliação da rede de esgoto. Hoje, apenas 0,2% do PIB é aplicado em saneamento
básico, quando o ideal seria 0,63%. Ainda assim, dos recursos disponibilizados
ano passado, apenas 30% foram utilizados pelos governos estaduais e municipais.
Apesar do cenário desanimador, Marcelo Néri, professor da GV e coordenador do
estudo, anima-se com a promessa de liberação de 40 bilhões de reais pelo
Programa de Aceleração da Economia nos próximos quatro anos. Além disso, como
2008 foi escolhido pela ONU como ano internacional do saneamento básico e, no
Brasil, acontecerão eleições municipais, há alguma esperança de que o assunto
entre em pauta.
"É claro que não podemos esperar que o governo público faça tudo.
Temos que mobilizar a sociedade civil para conhecer a situação e fazer
pressão", diz Néri. "Sabemos que o melhor modo é informar a opinião
pública. Um político guardaria o relatório na gaveta."
Vítimas
Os dados apontam que as crianças são as que mais sofrem com o problema. O estudo mostrou que, nas regiões onde não há um mínimo de saneamento, a mortalidade infantil é 24% maior do que nas áreas atendidas pelo serviço. No esgoto sem tratamento é possível encontrar solventes, metais, pesticidas, coliformes fecais e outras substâncias perigosas para a saúde.
Os dados apontam que as crianças são as que mais sofrem com o problema. O estudo mostrou que, nas regiões onde não há um mínimo de saneamento, a mortalidade infantil é 24% maior do que nas áreas atendidas pelo serviço. No esgoto sem tratamento é possível encontrar solventes, metais, pesticidas, coliformes fecais e outras substâncias perigosas para a saúde.
O grupo mais vulnerável são os meninos de 1 a 6 anos. Pelas próprias
características de brincar fora de casa e gostar de aventuras, eles têm maior
contato com o esgoto e as valas negras. Como apenas 40% das crianças nessa
faixa etária têm casas com esgoto tratado, uma média de sete crianças morre
diariamente no país por doenças provocadas pelo contato com o esgoto.
As grávidas são o outro grupo mais atingido. Uma gestante que entra em
com contato com água imprópria tem 24% de chances de seu filho nascer morto.
Quando isso não ocorre, são grandes os riscos de seqüelas como má formação,
lesões neurológicas e falta de glóbulos brancos.
Cidades
A maior parte da rede de esgoto está nas concentrações urbanas. O número de pessoas morando em cidades corresponde a 82,7% da população, aproximadamente 148 milhões de pessoas. Desse total, 82 milhões têm rede de esgoto (56%). O número de habitantes das cidades vivendo sem coleta de esgoto é de aproximadamente 65 milhões. Para onde vão os dejetos?
A maior parte da rede de esgoto está nas concentrações urbanas. O número de pessoas morando em cidades corresponde a 82,7% da população, aproximadamente 148 milhões de pessoas. Desse total, 82 milhões têm rede de esgoto (56%). O número de habitantes das cidades vivendo sem coleta de esgoto é de aproximadamente 65 milhões. Para onde vão os dejetos?
Muitas construções modernas, de alto padrão inclusive, não dispõem de
sistema adequado de coleta de esgoto. Os resíduos são despejados em fossas
sanitárias – que exigem manutenção constante, sob o risco de transbordarem e
contaminarem lençóis freáticos – ou em rios ou no mar. Um exemplo carioca pode
ilustrar uma realidade que ocorre em todo o Brasil. No bairro da Barra da
Tijuca, famoso por seus condomínios de luxo, apenas metade dos domicílios
possui rede de esgoto. Boa parte dos dejetos é liberada no mar.
"A população pobre é a que mais sofre, pois seus esgotos correm
abertamente ao lado de suas casas. Mas vivemos em sociedade, e os ricos sofrem
com a contaminação dos rios, mares, da água e até dos alimentos", afirma o
professor Néri.
As dez melhores redes de esgoto estão em cidades do estado de São Paulo.
São Caetano do Sul é a primeira, com 98,6% da população com acesso ao serviço.
A cidade é também a campeã de IDH no país. Na outra ponta, o pior município
brasileiro no quesito saneamento básico é Boa Vista, capital de Roraima. Dois
municípios paulistas, São Carlos e Praia Grande, figuram entre os dez piores.